Orgulhosamente Sós? Luso-Empreendorismo?
Fui contactado em Second Life por Flack Vollmar!
Não conhecia este avatar que amavelmente me forneceu toda a informação sobre a sua actividade em SL, levantando algumas questões pertinentes sobre o luso-empreendorismo no metaverse, e outras mais ligadas com a luso-presença.
Contextualizemos:
Flack Vollmar é o avatar de um português empenhado na concepção e construção de um espaço inworld com o nome de Vivo! Ocean Marina. Segundo as suas palavras, "construí em Second Life uma Marina algo inovadora, porque integra um complexo comercial e de entertenimento e cultura que normalmente as Marinas que existem em SL não possuem. Fruto dessa inovação na concepção funcional do espaço a Vivo! Ocean Marina é neste momento a 4ª Marina mais visitada da grid. É de salientar que não uso camping pads ou dancing pads para atrair visitantes."
E continuou: "99% dos vistantes sao internacionais (...) Pretendo demonstrar que é possível a um Português sózinho instalar e montar um sítio em SL virado para o mercado internacional e ter sucesso... (...) A Marina só foi inaugurada há duas semanas atrás, pelo que o seu potencial de crescimento é grande (...) Porque motivo a comunidade portuguesa em SL se encontra tão fechada, quase acantonada? Ou seja, encontram-se muito poucos portugueses espalhados pela grelha. Raramente se encontram portugueses fora das zonas onde apenas encontras portugueses (Lisboa, Porto, Algarve). Também me intriga porque razão, nesses sítios, raramente se encontram pessoas de outras origens ( exceptuando um ou outro Brasileiro)."
Da press release da Vivo! Ocean Marina:
"Hello.
This is Vivo! Group presentation to sl press.
Since our fundation we at Vivo! try to create develop and manage virtual reliable scenarios that can transform second life experience, on pleasent moments of joy to users of this fantastic Virtual 3D environment.
All our work and efforts are directionated to make virtual living a breathtking experience for all:
To reach that goal we divided our work on this five main sectors:
* Vivo! Land & Landscape... ( Real State )
* Vivo! Architectural Houses ( Prefabs )
* Vivo! Plaza ( Shopping and Mall )
* Vivo! Ocean Marina ( Boats & Regatas )
* Vivo! Ocean MarinaClub ( Deep House music & Fashion Events )
* Vivo! Land & Landscape... ( Real State ) Continuous research of the best spots to bring a variety of solutions to people who are looking for a nice and good looking place to set there house ( the place we all like to call home ). Also on our Land offer we can provide hot comercial spots to create your business and build your main store.
* Vivo! Architectural Houses ( Prefabs ) Prefab houses and buldings with integrated Home control system. Lightning an d security integrated on modern style houses with high quality texture and and functinal design.
* Vivo! Plaza ( Shopping and Mall )
* Vivo! Ocean Marina ( Boats & Regatas )
* Vivo! Ocean Marina Club ( Deep House music & Fashion Events )
This 3 sectors integrated on a Water themed sim, interact togheter on one complete entertainment concept, that fits the main needs of our visitors. SL users that seek for high end on sailing and social high standats will find on Vivo! Ocean Marina the best spot to hang arround, relax or have fun with friends.
Vivo! Ocean Marina services and facilities are:
- Direct connection to 5 regions ( Sims ) of Open Ocean ( free ocean for all to sail ).
- Two courses for boat races and regatas on weekly based schedule. ( Beggining on November 2007 )
- Boat parking space to rent ( mooring )
- Comercial spaces to rent ( shops )
- Boats exposition and selling with possibilitie to schedule demonstration to test desired model.
- Open air sailors club with daily events with and thematic parties. Schedule for social and fashion events.
- Space for Art exposition with permanent original sculpture and paints from origianl well known sl artists
- Free area to rezz your boat and go out sailing to open ocean.
- Public canal with opening bridges.
- Free auto rezzer Jetski
- Free skyediving
Best regards, Flack Vollmar
Depois de ver o video e analisar as palavras de Flack, e tentando não fazer qualquer apreciação qualitativa sobre a proposta comercial desta Marina, fiquei de facto a pensar no enorme potencial e capacidade de realização do indivíduo (portugueses, chineses, dominicanos,...) quando se empenham em projectos em que acreditam.
Second Life favorece as iniciativas e o empreendorismo individuais, e pode dar origem a novos modelos de negócio com estruturas e dinâmicas que diferem da realidade.
A 'luso-presença' em Second Life, um mundo que vive de fluxos de informação e de cruzamento de culturas e de sensibilidades, parece ser também um motivo de reflexão pertinente. Tem alguma razão Flack Vollmar, quando constata que a nossa 'comunidade lusa' (agarrada às fronteiras territoriais da RL) transporta para um mundo novo os mesmos 'vícios' de um quase (orgulhoso?) isolamento (salvo honrosas e conhecidas excepções).
Não seremos os únicos 'orgulhosamente sós'... mas não valerá a pena combater a danada preguiça e aproveitar um mundo sem fronteiras físicas para construir comunidades verdadeiramente multiculturais? Seguramente teríamos muito mais para aprender...
4 comentários:
Os portugueses têm de facto um comportamento estranho. Quando haviam apenas umas dezenas de milhares inscritos, estavam espalhados por todas as comunidades em todo o SL. Não se sabia "quem era o português". Aliás, muitas vezes eram fontes aglutinadoras de comunidades multilingues e multinacionais, e só quando — muito raramente! — lá encontravam um "compatriota" é que se "revelavam". Foi assim no SL durante muitos anos.
"Falavam" de vez em quando nos poucos grupos dedicados aos portugueses no SL. Chegaram a construir a primeira tasca em conjunto; onde um ou outro evento apelativo à alma nacional era invariavelmente frequentado por mais "estrangeiros" do que "nacionais". Mas tudo bem: fiéis à sua tarefa de "construtores de pontes", de agregadores e aglutinadores de comunidades, era isto que faziam. "Cidadãos do mundo" como o Sócrates (não o político, mas o filósofo :) ).
Depois chegou-se àquelas barreira mística dos cem mil inscritos. De repente, o mundo todo deixou de ter interesse: os portugueses, tal como se subitamente tivessem despertados para esta nova realidade — não fossemos o 12º ou 13º país com maior número de residentes no SL — passou a juntar-se numa "comunidade". É o fenómeno dos grupinhos de liceu — "se és tuga, vem ter connosco, onde estão o resto dos tugas, e esquece lá os estranjas que por aí andam.
"
Tal e qual como nas praias do Algarve — a um canto, estão os "turistas"; a outro, a "malta de Lisboa" (normalmente separada da "malta do Porto" e restantes partes deste país fora); e finalmente, os "nativos". Não conversam uns com os outros; fazem as mesmas coisas, na mesma praia, mas cada qual no seu cantinho. Mas se não há "massa crítica" na praia, os portugueses então juntam-se a quem lá estiver; e se não estiver ninguém com quem falar, geralmente são eles próprios pontos agregadores.
Depois é a mini-balcanização. Não basta ter "uma comunidade portuguesa" do Second Life, como têm, por exemplo, os holandeses. Tem de ser "a" comunidade portuguesa, com a exclusão de todas as outras. Ironicamente, tudo o que acontece nesses casos é que há enorme fragmentação e birras e turras para todos os lados...
Exactamente o que acontece nas praias do Algarve também. Ou no IRC. Ou no Orkut, ou no Hi5...
Um amigo meu fez as contas, e contabilizou a dada altura 70-90 ilhas relacionadas com comunidades portuguesas no Second Life. Ironicamente, no mesmo período, o número de espanhóis no SL era o dobro, mas tinham apenas... 2 ilhas :)
Enfim. Isto tudo para dizer que não conheço o Flack Vollmar, mas só posso concordar totalmente com a abordagem dele. Aparentemente somos agregadores naturais de comunidades... excepto, claro está, quando se tratam de comunidades de portugueses. Aí trazemos efectivamente todos os "vícios" que nos tornam insuportáveis aos olhos uns dos outros; ao passo que no seio de comunidades multinacionais, comportamo-nos com humildade mas somos vistos como líderes...
eheheh, Gwyneth ;)
Concordo plenamente com a tua análise à lusa contradição!
Bem, aparecem muitos mais estrangeiros que apenas "um ou outro". Mas isso explica-se também, porque fala-se muito e quase sempre em português...logo, os estrangeiros, que não entendem a língua, procuram outros sítios, onde se fale em “público” a língua deles ou o Inglês. Acho que existir uma comunidade portuguesa, ou várias, não impede que outros criem comunidades "internacionais" noutros lugares, não é por isso, a meu ver, que isso deixa de ser possível. Eu sou do tempo em que encontrar um português era coisa rara...e confesso que assim, saber onde encontrar gente que fala a minha língua, é bom...é muito bom. Os problemas, naturalmente surgem, pois somos humanos e as coisas são assim mesmo…só em “comunidades” de relacionamentos esporádicos ou superficial é que isso não acontece. Mas portugueses há em vários lugares, só que como o SL é enorme, parece que só os vemos, como disse o “Flack”, nas ilhas Lisboa, porto e Algarve…mas não…eles andam por todo o lado…saber onde é que é mais difícil, e essa é a vantagem duma “comunidade” portuguesa no sl.
Na ilha Portugal Algarve por exemplo, estão frequentemente estrangeiros por lá. Se forem á ilha Brasil, encontram 95% de brasileiros e outros 5% de “pára-quedistas” sendo estes maioritariamente portugueses.
Cumprimentos,
Ronin Devinna
A Gwyneth é quase sempre muito objectiva e certeira, quer nos seus comentários, quer no que escreve no seu excelente blogue. Mas creio que desta vez passou um bocadinho ao lado, transpondo as 'generalidades' e 'mitos' sobre os portugueses para a realidade (virtual) SL.
As ilhas (4) de Portugal e a ilha Portucalis, são sem dúvida, pólos aglutinadores de portugueses e frequentadas maioritariamente por portugueses (é natural) e cada vez mais por brasileiros.
O Ronin já falou sobre Portugal. O que se passa em Portucalis? Portucalis não é nenhum cantinho para portugueses e não há qualquer tipo de segregação, muito pelo contrário, sempre que há pessoas presentes que falem outras línguas, o inglês passa a ser a língua oficial.
A nível de eventos, concertos por exemplo, não têm sido portugueses os que vão tocar. Apenas nas aulas que damos, por opção explicita, estas são dadas em português para um público de língua portuguesa. Porquê?, porque em SL há dezenas de aulas diariamente e nenhuma em língua portuguesa. Por isso oferecemos as nossas aulas em língua portuguesa (e desde Setembro que numa frequênca semanal damos aulas). Outros eventos que estão em preparação, não são de pessoas portuguesas.
E quanto às birras e turras, elas não têm ocorrido entre as diferentes 'comunidades' portuguesas: os ´públicos' são na maior parte dos casos distintos e há (para algumas áreas) projectos de colaboração.
Para acabar, e como nota pessoal, eu continuo a ser cidadão do mundo SL, apesar do meu envolvimento com Portucalis: pelo menos 50% do meu tempo inworld é passado fora de qualquer 'comunidade' portuguesa.
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