Enrique Dans, investigador em TIC, professor e grande comunicador, deixou alguns "Conselhos para Conferências em Second Life" na sua página pessoal. Os ditos conselhos, são resultado da sua experiência como conferencista virtual durante a Feria Española de Empleo, promovida por infoempleo.com na ilha da empresa Barcelona Virtual.
Pela credibilidade do orador, e pela organização do seu discurso, aqui ficam alguns excertos (à atenção de quem tem que 'falar em público' no metaverse):
"A partir da experiência posso, sem pretender ser um especialista no tema, extrair alguns conselhos para quem se possa vir a encontrar neste tipo de situações que, pelas características de Second Life, estou convencido que começaremos a viver de uma maneira cada vez mais natural:
> Em primeiro lugar, assume a experiência da conversa como fazes com uma conversa normal presencial. A última versão de Second Life já possui audio, o que faz com que a conferência possa acontecer de viva voz, com um avatar que manobras como queres, e com a possibilidade de utilizar apresentações. Portanto, situa-te num ambiente completamente tranquilo, sem interrupções, com um copo de água para tornar a voz mais límpida e com uma caneta e um papel caso tenhas que tomar algumas notas. Fecha as portas, elimina a possibilidade de distracções com o telefone, desliga o Twitter, o Skype, as mensagens instantâneas e qualquer outro programa com funções de avisos. Acomoda-te.
> Usa auscultadores com microfone com os quais estejas familiarizado. Os auscultadores são recomendáveis sobretudo porque o audio é direccional: se alguém fala contigo desde a direita, ouvi-lo-ás à direita, e localizá-lo-ás mais facilmente, se alguém fala contigo desde longe, vais ouvi-lo baixo e se quiseres podes aproximar-te.
> Chega ao local algum tempo antes, e familiariza-te completamente com o movimento nesse lugar. O cenário pode ter elevações, escadas ou pequenas armadilhas (no meu caso, determinados movimentos faziam-me atravessar a tela de projecção, e deixavam de me ver no auditório). Cuidado com os objectos que superem a altura dos teus olhos… segundo os movimentos e alterações de perspectiva que faças, poderás dar contigo a tentar "ver através" deles e ficas a ver apenas uma superfície dessa cor por momentos.
> Passeia, move-te, não fales sentado nem estático: através do monitor, ouvir a voz de alguém enquanto vês o seu avatar quieto, torna-se muito aborrecido. No meu caso, que não estou quieto nem um momento nas conferêcias reais, a coisa saíu-me muito natural, se assim não fôr, pratica um pouco antes. Idealmente, deverias ter um pouco de experiência em Second Life antes de subir ao palco, para evitar que te movas de uma forma que pode resultar "ridícula". O mais fácil é evitar percursos prolongados: encontrar um sítio cómodo em frente ao cenário, deslocar-se para a frente e para trás (isso fará também com que movas os braços, o que proporciona um aspecto “natural”), e de vez em quando, rodar ou mover a câmara (se sabes utilizá-la bem) para confirmar se o diapositivo da tua apresentação mudou. Podes aplaudir, rir ou utilizar qualquer um dos Gestures, mas assegura-te de que já os viste antes e que os tens razoavelmente dominados, e se não os dominas bem, usa a janela de Gestures e selecciona-os com o rato para estar seguro… a última coisa que queres é enganares-te na tecla e dançar em vez de dizer que sim ou que não com a cabeça. O movimento, em geral, é o mais complicado, e quando estiveres no meio da apresentação, com os nervos, ainda te parecerá mais difícil. Quanto mais tiveres praticado antes, melhor.
> Eu não o fiz, mas pode ser interessante ter alguém que vá escrevendo na janela de chat as ideias principais da apresentação. Com isso, evitarás deixar de fora quem não tenha instalada a versão do programa com voz ou quem tenha problemas de som, que são mais frequentes do que deveriam. Poderás, se não estás com confiança suficiente ou tens pouca experiência em Second Life, pedir a outra pessoa que controle o movimento do teu avatar, mas a mim, decididamente, não me agrada nem me parece uma situação sustentável.
> As perspectivas em Second Life são de dois tipos: a que mostra o teu próprio avatar, e a Mouse View, na qual vês desde a posição dos seus olhos até onde coloques o rato. Em Mouse View (prime M), terás uma visão “natural” do auditório, mas perderás algum controlo sobre os teus movimentos, a não ser que tenhas já muitos quilómetros em Second Life. Na visão standard podes ver-te, mas se rodas para ver o écrã, darás uma volta e ficarás de costas para o auditório, o que é desagradável tal como na vida real e que deves tentar fazer poucas vezes. O que podes é dar a volta, olhar brevemente para o écrã, e fazer um duplo clic sobre uma parte dele, assinalando e chamando a atenção sobre o que lá está, mas isso já é manobra de autêntico craque. Podes manobrar a câmara para ver-te desde qualquer posição, mas se pretendes mover-te e não tens muita prática, não o faças, ou será fácil que fiques de costas para o público e que não saibas dar a volta de novo facilmente. Para mim, mas será uma questão de gosto, o mais cómodo é a visão normal por trás da cabeça do avatar e com uma certa distância, e isso permitir-te-á ver os teus movimentos e até manobrar o olhar com o rato (o avatar olhará para onde o rato se desloca). O controlo da perspectiva em combinação com o movimento do avatar é complicado e é melhor praticar bem.
> É muito recomendável que tenhas uma cópia da tua apresentação aberta noutra janela ou em papel, sobretudo para que te permita saber o que vem a seguir. Tem em conta que quando pressionas a mudança de diapositivo, este demorará um pouco a surgir no écrã e no início aparecerá 'pixelizado', pelo que é recomendável que primas um pouco antes de começar a falar dele.
> As apresentações: curtas, de poucas páginas, com textos em corpo grande, mas com alguma dinâmica para manter o interesse. Não creio que seja recomendável falar mais de um quarto de hora, ou a minha impressão é que a coisa se tornará inevitavelmente aborrecida.
Em resumo, pareceu-me uma experiência interessantíssima, divertida (tendo em conta que gosto de fazer conferências na vida real) e com uma componente de interacção impressionante: desde o auditório, e eliminando possíveis factores de distracção derivados de uma escassa experiência com um novo meio, a sensação é realmente a de uma conferência normal. Desde o palco, mesmo com os nervos de quem tem que assumir o controlo do avatar ao mesmo tempo que se concentra no que quer dizer, o nível de dificuldade pareceu-me perfeitamente aceitável. E quando a curva da experiência começar a fazer das suas, seguramente que será ainda melhor."