"O avatar é o 'mouse' de amanhã..."
Luis Besa foi entrevistado por Lourdes López, jornalista do La Vanguardia, a propósito do lançamento para breve do seu livro "Metaversos", um original thriller financeiro protagonizado por avatares, e onde, através de um "macrojogo", se emulam os ambientes comerciais do século XIV. O livro será lançado em Segovia, onde Luis Besa trabalha como jornalista e novelista, no próximo dia 24, e ao mesmo tempo em Second Life. No livro, Besa desenvolve um SL imaginário transformado numa economia que reflecte a real, mas a uns trinta anos de distância.
Aqui fica a transcrição da conversa (com tradução livre), pela originalidade e importância de alguns temas abordados por Luis Besa.
"- O que é o metaverso?
- Actualmente chama-se metaverso a ambientes virtuais do tipo de Second Life que emulam informaticamente a interactividade do mundo real. É um conceito que já existia, por exemplo, na novela 'Snowcrash' (1992). Gosto do conceito. Vem do universo e do prefixo "meta", que em lógica e filosofia tem uma aplicação sistemática. Por exemplo, um "metatexto" é o texto que fala do texto. Por outro lado, 'Metaversos' tem umas ressonâncias literárias. É um bom título. Universos dentro do universo.
- Por curiosidade, ... era um desses miúdos viciados em videojogos?
- Bem, nasci em 65, logo sou da geração do PackMan e de videojogos muito rústicos nos quais disparávamos sobre marcianos que desciam em filas... Aquilo foi uma revolução, e as crianças da época deixavam a semanada nas máquinas Sega dos salões recreativos. Eu era especialmente mau jogador. Posteriormente, gostei muito de alguns jogos de estratégia (o mítico Civilization II ou The Sims), e continuava a ser muito mau jogador. O que uso mais é mesmo a Internet, e por razões profissionais. Não sou um freak, nem um ciberdependente nem um otaku. Simplesmente a minha geração teve na Internet o seu trampolim profissional. Onde estiver o futebol, que se retire o que não tiver a ver com ele...
-E porquê uma novela de ficção científica baseada em Second Life?
-Por causa dos avatares. Permitia-me dar credibilidade à hipótese de uma emulação do século XIV como "jogo comercial" convertido numa verdadeira economia em meados do presente século. Isso, por sua vez, facilitava alternar a acção da novela em dois planos temporais, o século XXI e o século XIV, que era o objectivo literário da novela: resolver no século XIV uma intriga que se congemina no século XXI. 'Metaversos' é como uma máquina do tempo, mas 100% real.
- Não é Second Life, como muitos defendem, uma aventura internauta passageira?
- Pode ser. Eu creio que o interface do futuro passa pelo avatar. O avatar é a nossa extensão personalizada no programa, permite uma relação com a máquina muito mais complexa, e, por sua vez, mais intuitiva. O avatar é o "mouse" de amanhã. E Second Life é hoje o maior forum de avatares conhecido. É o sítio onde se lançam os protótipos. E isso, para mim, é o mais importante, com independência face à bolha mediática que se possa ter formado.
- Acredita realmente que SL pode evoluir até ser uma economia que reflecte a da vida real como sugere na sua novela?
- Bem, eu só escrevo novelas. E escrever novelas é mentir de maneira verosímil. Não creio que SL evolua tal como digo na novela.
- Então?
-Creio que evoluirá até generalizações do avatar como ferramenta de comunicação com a máquina, até uma Internet II com gráficos 3D melhores e mais potentes. Outra coisa é emular um tráfego comercial virtual e convertê-lo num sector económico paralelo. Isso sim, é teórica, económica e tecnologicamente possível. Como tal,... porque não?
- Mas nesse universo económico virtual que descreve na sua novela não há apenas grandes empresários, mas também classes sociais desfavorecidas
- Há classes sociais, também mendigos e ladrões e gente da má vida (na verdade, a minha novela está cheia de mendigos e ladrões virtuais). Numa emulação económica haverá empresários e haverá quem trabalhe por conta de outrém. Sem dúvida, e aí está o mais interessante, a tua pertença a uma ou outra classe social não será medida pelo património mas sim pela habilidade e engenho. De certo modo, um ambiente económico deste tipo, sem ser nenhuma panaceia, aproximar-nos-ia da utopia da meritocracia.
- Em suma que mensagem acha que podemos retirar da sua obra?
- Da minha obra espero que se retire, antes de tudo, diversão e entretenimento.
- Mas à margem da aventura que protagonizam os avatares, o que pretende revelar?
- Um Second Life a uns 30 anos de distância. Na sua a essência, afirmo que um sector económico assim se baseia num processo que segue esta pauta: mercado imobiliário virtual e de propiedades virtuais, pessoas jurídicas virtuais, livre circulação de activos virtuais, garantidos pelo sistema bancário, através das diversas plataformas e, por último, a livre implementação de software por parte do utilizador. Dizendo de outra forma, a empresa que desenvove o jogo cria o cenário, garante as regras do jogo, e cobra para se entrar nele. As ampliações do software, melhorias, complementos, etc… ficam ao livre arbítrio do utilizador (sempre respeitando algumas regras mínimas).
- Por exemplo...
- Por exemplo, a fornecedora é um mercado que aluga pontos de venda; ou a empresa é um casino que deixa que os utilizadores organizem as sus próprias partidas...
- Qual a sua opinião sobre a tecnologia?
-Não faço nenhum juízo moral sobre ela. É certo que simplifica determinadas coisas, mas introduz complexidade noutras. Pode funcionar como um isolante social e substituir o contacto directo entre os homens, mas também actua, e de que forma, como um catalizador da comunicação. Os juízos morais são sempre sobre factos, não sobre instrumentos. Finalmente tudo depende do uso que se faça do instrumento e de ter claro que a tecnologia está ao nosso serviço, e não ao contrário. Pessoalmente penso que é idiota partir uma noz com um laser dispondo de um quebra-nozes, a não ser que tenhas uma fábrica de nozes sem casca, claro."
1 comentário:
Obrigado Paulo.
No sabe usted la ilusión de ver la entrevista en portugués. Muchas gracias.
Felicidades por el blog.
Atmt. y a su disposición,
L. Besa.
luisbesa@interprogramas.es
Pd. Espero que no le importe que utilice su amable traducción en los foros.
www.sedice.com/modules.php?name=Forums&file=viewtopic&t=28378
A su disposición
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