Mundos Virtuais na Sala de Estar?
A propósito do marketing da Sony sobre Home, o "mundo virtual" que propõe para PS3, veio-me à memória o debate de há cerca de 5 anos sobre a Televisão Interactiva!
Nesses tempos, a iTV era acérrimamente defendida como uma proposta de convergência de tecnologias (televisão, telecomunicações, informática). A mesma convergência defendida pela indústria informática que se sentia ameaçada, a mesma convergência resgatada pelas empresas de telecomunicações que se sentiam ameaçadas. O projecto iTV, enquanto plataforma de convergência, nunca chegou a vingar, perdendo terreno e mais terreno justamente para a informática e para as telecomunicações.
O que parece mais interessante agora "repescar" do aceso debate de 2002, são as mais-valias apresentadas pelos defensores da iTV: ser possível utilizar a TV, um objecto do grupo familiar, para comunicar com telefones móveis ou para navegar na Net. O marketing da iTV falhou! E uma das principais razões desse falhanço terá sido precisamente a incompreensão de que a navegação na Net, por exemplo, era (e continua a ser) um exercício individual, exercido pelo utilizador numa posição concentrada de trabalho e a pouca distância do monitor de um PC.
Pelas mesmas razões, telecomunicações e informática conseguiram fazer vingar a referida convergência, ao propôr como base objectos pessoais (telemóveis e PC's). A atitude relaxada da sala de estar, onde a família se reúne e conversa de telecomando na mão ameçando zapping, não sugeriam, há cerca de cinco anos, que esse fosse o cenário privilegiado para a "navegação" intimista.
Contextualizada a problemática, assistimos hoje à proposta da Sony com Home utilizando os mesmos argumentos: um mundo virtual partilhado pela família (!), onde impera a mesma atitude relaxada em frente a uma consola ligada à TV. Famílias mais ou menos numerosas, sentadas em sofás a uma distância razoável do écrã, com as interrupções e ruídos inerentes a este tipo de ambiente de sala de estar!
O argumento que pretende constituir vantagem, é o de que, por exemplo em Second Life, a actividade no mundo virtual é solitária. Eu chamar-lhe-ia intimista, pessoal e intransmissível. A "família" invocada pela Sony está no écrã, em Second Life, o que permite uma imersão concentrada e a comunicação com outros personagens com os quais se descobrem afinidades.
Em Second Life estamos "na mesma sala" virtual. Por vezes a sala está cheia, outras vazia...
Não tenho nada contra o ambiente familiar lá de casa, mas, sinceramente, não me imagino num mundo virtual na sala de estar!
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