Esclerose Múltipla em Second Life II
Depois do post de ontem sobre Esclerose Múltipla em Second Life, e sobre a conversa com Maggie Runo, consegui o prometido encontro com lorechip Kurka, a mentora do espaço C.E.M. (Centro de Esclerose Múltipla).
Como prometido, a lore, como é conhecida, apareceu, na companhia de Juanjo Runo.
Dentro de um traje e com adereços ambiguamente informais e formais, o seu corpo bem tratado rodeava um sorriso leve de lábios bem desenhados.
"Sentamo-nos?", perguntou! Eu não costumo sentar-me muitas vezes, mas anui sem problemas.
Já sabia ao que vinha, já me tinha feito apresentar, já lhe tinha falado do blog e do meu interesse na sua actividade in-world.
Confirmei a sua concordância em publicar a nossa conversa muito pessoal, e as fotos que mais tarde iria tirar. Que sim, sem problema nenhum.
lorechip Kurka é, desde Abril deste ano, o avatar de uma asturiana de 30 anos, com Esclerose Múltipla diagnosticada aos 13, e com as primeiras manifestações da doença aos 22. Habitualmente, desloca-se na RL com a ajuda de uma muleta, "e por vezes com duas, mas mais raramente, só durante as crises...", detalhou.
Colabora na RL com a Asociación Asturiana de Esclerosis Multiple, cuja página na Net se encontra referenciada no espaço que idealizou e realizou em Second Life.
"Entrei em Second Life por curiosidade, para ver como era, e tive desde logo a ideia de criar um Centro de Esclerose Múltipla para explicar em que consiste esta doença e como funciona, porque as pessoas têm ideias pré-concebidas sobre ela."
Eu queria saber mais sobre a sua situação física na vida real: "Estou numa fase inicial da doença bastante extensa, com várias placas instaladas no cérebro.", ia esclarecendo, "A entrada em Second Life mudou um pouco a minha RL. O melhor de tudo é poder estar aqui! Poder mover-me sem dificuldade. Adoro fazer coisas que na RL não posso fazer, como dançar, conhecer gente, falar diferentes línguas... Enquanto aqui estou esqueço um pouco a E.M., mas quando "regresso" à RL é muito difícil conseguir esquecê-la."
E o grupo? Quem participa?
"Neste momento somos 84, mas a maioria não são portadores da doença, são os "sensibilizados". Em Second Life não há muitos portadores de Esclerose Múltipla, talvez porque nem sequer temos recursos económicos para entrar na Net! A doença manifesta-se em idades jovens, em pessoas ainda dependentes economicamente. O ideal seria ter um apoio institucional que não existe! Eu é que vou mantendo os custos deste espaço!"
Mostrou-me alguns artigos promocionais (uma pulseira, que eu já tinha comprado ontem, uma t-shirt, que comprei mesmo sendo para senhora e que consegui ajustar ao meu corpo mais volumoso, um cabelo loiro, esse sim feminino e que não comprei), e ofereceu-se para me mostrar o resto do edifício.
Seguimos em passadas largas por rampas de ligação aos dois andares superiores.
No 2º andar, uma sala ampla inundada por cartazes com informação sobre a Esclerose Múltipla: sintomatologia da doença, explicações sobre a sua origem, conselhos sobre a vida social e sexual para os portadores, ... Esclarecido, segui a lore até à sala de relaxamento no 1º andar, onde gostaria de fazer as fotos.
Uma extensa família de almofadas de seda repousava no chão. Em cada uma delas, os avatares podiam assumir uma posição de meditação! Sentei-me numa ao acaso. A lore noutra.
Tirei calmamente as fotos, escolhendo os ângulos que me aprouveram, enquanto lorechip Kurka, provavelmente, meditava, sempre com aquele sorriso nos lábios desenhados.
Despedimo-nos com cortesia, agradecendo mutuamente aquela conversa no C.E.M., depois de eu a informar da direcção do blog para ver este post, na esperança de contribuir de alguma forma para o seu trabalho de sensibilização. lore prometeu-me que iria ler e perceber o português!
Saí teleportando-me para a ilha da Universidade do Porto, onde fiquei uns minutos a pensar no sorriso tranquilo e desenhado de lorechip Kurka, o avatar de uma mulher das Astúrias.
"O melhor de tudo é poder estar aqui!", tinha dito...
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