1.8.07

Sobre Jesuítas em Second Life

A notícia já é conhecida há alguns dias.

O El País, citando a agência EFE no Vaticano, noticiou no dia 26 Julho:
"A Companhia de Jesus propôs hoje utilizar a plataforma virtual Second Life para difundir o Evangelho, segundo um artigo difundido pela sua publicação Civiltà Cattolica e que foi bem recebido pelo Vaticano. O presidente do Pontifício Conselho de Comunicações Sociais, o arcebispo Claudio Maria Celli, declarou-se entusiasta perante o desafio lançado pelos jesuítas. Os jesuítas analisam as vantagens e inconvenientes desse mundo virtual e questionam que se há "ciberespaço para Deus", "a terra digital" pode converter-se, "à sua maneira, numa terra de missões". Celli qualificou a proposta como "positiva e interessante", pois a Igreja defende que "a Rede é um mundo enorme, que falta avaliar e entender, e onde indiscutivelmente quer estar". Na conhecida comunidade (de Second Life) encontram-se pessoas com "necessidades de carácter espiritual" e, por isso mesmo, "talvez" não seja de desprezar essa procura."
A este propósito, Lore Sjöberg manifestou hoje na Wired a sua opinião sobre este assunto, levantando algumas questões pertinentes:

"Como se fala de coisas espirituais com um esquilo gigante com seis seios?
Se fôr um missionário virtual num mundo virtual falando com "pessoas virtuais", irá tentar converter a "pessoa virtual" ou a real que se encontra por detrás dela? (...) Antes de mais, tanto quanto sei, no Céu nem sequer existe banda larga. Será difícil tentar que uma senhora-robot meia despida comungue, uma vez que as senhoras-robot meias despidas não entram nos planos de Deus. Obviamente terão que encontrar a "pessoa" por detrás do teclado, o pecador por detrás da representação. (...) Depois de tentar chegar a uma conclusão, acho que a maioria dos pecados apenas são pecados se, de facto, se cometerem. (...) No entanto, alguns pecados parecem ser pecado mesmo que apenas intenção. Muitos deles têm a ver com sexo. (...) Em vez de tentar perceber quem necessita de uma conversão pelas suas acções, talvez seja melhor perguntar-lhes. Mas depois terão que descobrir se lhes estão a dizer a verdade. Existem inúmeras pessoas na Net que lhes dirão que são jovens Católicas, mas muito poucas são Católicas, ou jovens, ou ambos. (...) E se encontrarem "alguém" com o aspecto de uma mulher meia despida, se com ela tiverem uma longa conversa sobre os planos de Deus, e se voltarem passado um mês e a virem vestida de freira, bem... é possível que tenham conseguido obter com a senhora tal efeito que a faça aderir de imediato a um convento que permita acesso à Net às noviças, mas estou mais convencido que apenas a convenceram a mudar de fetiches."
Os jesuítas não são pioneiros na investida religiosa em Second Life. Brevemente escreverei sobre outras confissões emergentes no metaverse. Mas as opiniões e sugestões do artigo da Wired, deverão, pelo menos, fazer com que Claudio Maria Celli e os jesuítas pensem duas vezes na sua cruzada virtual. Mesmo fechando os olhos à expressão "segunda vida" e aos seus possíveis significados, parece-me que a conversão religiosa em Second Life é tarefa hercúlea!

Bem... a não ser que os tais 8 milhões de registos, 45 mil online no máximo nos dias que correm, sejam todos avatares de crentes "reais"! Bolas, nunca me tinha ocorrido! Pois, mas nesse caso a evangelização não faria sentido, não era?

2 comentários:

makuma disse...

E uma biblia 2.0 nao? Em jeito de open source :)

Ja que o livro foi escrito por homens, porque nao reescreve-lo outra vez com a participacao de todos os que quisessem?

Tipo:

Eu certamente colocaria os reis magos que encontraram o bebe Jesus como monges budistas a procura da reencarnacao de um lama.

Que lhe parece?

Marta Silva aci disse...

Acho que se conseguir manejar a versão 1.0 da Bíblia já não é nada mau... Por exemplo, para dar-se conta de que isso dos magos serem reis é 'bug' posterior, não aparece na 'versão original'. Aliás, isso de haver até agora só uma versão já tem muito que se lhe diga. É verdade que é a 'patentizada', mas isso foi só no século XVI (Concílio de Trento) e até aí funcionava muito mais tipo open-source, sobretudo nos primeiros séculos. Isso sim, com grande respeito (mais por uns que por outros), por causa da consciência de que, lá por ser escrita por homens, isso não deixa de ser uma das formas mais próximas de Deus estar entre nós!

E quanto aos cuidados da Evangelização na Second Life, realmente levanta muitos interrogantes e questões novas, mas acho que o missionário de hoje se impressionará menos com uma coelha gigante de 6 seios do que os missionários da época dos Descobrimentos quando entraram em contacto com culturas tão diferentes da europeia. E isso não foi impedimento para que a alegria da Ressurreição de Cristo aí fosse anunciada.

Desejo tudo de bom a esta iniciativa! E rezo para que dê muito fruto!