SL torna as crianças anti-sociais? E a TV?
Richard Bartle, um dos criadores dos MUD's, foi entrevistado por Luz Fernández e Pablo Veyrat (jornalistas do El Pais.com) em Julho, na Universidade de Oviedo na conferência GameLab. Na ocasião, teve oportunidade de falar de Mundos Virtuais e de... Second Life, com algumas declarações tão claras quanto polémicas.
Alguns destaques da entrevista publicada aqui, relacionados com Second Life:
"Pergunta : Que elementos definem um mundo virtual?
Resposta: Um mundo virtual tem as seguintes características: funciona empregando um sistema de regras latentes, a sua física. Um jogador representa em indivíduo no mundo virtual, a sua personagem. A interacção com o mundo tem lugar em tempo real, não podes jogar por correio electrónico. O mundo é partilhado. Estás no mundo com outras pessoas no mesmo momento. O mundo é persistente. Continua a existir ainda que o abandones. Não é o mundo real. Se algo satisfaz todos estes critérios, então é um mundo virtual.
P. : Porque razão crê que os mundos virtuais são tão atractivos para tanta gente?
R. :Um mundo virtual permite-te ser e converteres-te em ti mesmo. Quem não gostaria de estar num local onde pudesse ser ele mesmo?
(...)
P. :Como se explica o êxito de Second Life? Considera ser mais um fenómeno de marketing que uma comunidade real?
R. :É certo que Second Life consegue que muita gente o teste como resultado do seu excelente marketing, mas essa não é a razão pela qual se mantém. Na realidade, muitos dos que o testam continuam a usá-lo, embora não agrade a toda a gente. Mas os que ficam, adoram-no. Rir-se-iam se lhes dissessem que não são uma comunidade real, porque claro que o são!
(...)
P. :Pensa que este tipo de jogos está a alterar os nossos hábitos sociais, com gente jovem que já não se sente bem numa relação cara a cara?
R. : Não creio que estejam a alterar os nossos hábitos sociais. Na verdade, diria que estão a melhorar. Se alguém não se sente cómodo em situações cara a cara, um mundo virtual pode, de facto, ajudar a alterar essa incomodidade. Estes são lugares muito sociais. Como tal, permitem-te sentir-te bem contigo mesmo, encontrar o teu "eu real" sendo outro: o teu personagem. Ou, colocando a questão de outra forma: se pensas que os mundos virtuais vão converter as crianças em gente anti-social, então deverias estar muito mais preocupado com a televisão, que é muito menos social que os mundos virtuais.
P. :Pode explicar-nos como e porquê desenvolveu o MUD?
R. : Fi-lo porque sempre criei mundos. É como perguntar a um romancista porque escreve: fá-lo porque não consegue imaginar-se sem escrever, é o que ele é. Por isso crio mundos. Quanto às razões pelas quais crei o MUD- que na realidade co-criei, já que não estava sózinho: Rob Trubshaw começou o projecto MUD-, foi porque o via como uma forma de tornar as pessoas livres. No mundo real, as pessoas estão amarradas pelo seu aspecto, pela sua forma de falar, pela sua familia, pela sua escola, pelo seu trabalho... há tantas pressões sobre as pessoas que não podem ser elas mesmas. Vi o MUD como uma forma de permitir às pessoas serem eles mesmos através de outro. Na vida real, não podes fazer tudo o que queres porque estás condicionado pelas consequências. Num mundo virtual, sempre podes voltar a começar como um novo eu. Entendo os mundos virtuais como lugares onde as pessoas se podem dirigir para se libertarem dos condicionamentos do mundo real e explorar as suas personalidades para entender melhor quem são e do que são capazes."
Obrigado, R. Bartle, pelo discurso límpido e esclarecedor!
1 comentário:
A prática faz a perfeição. Eu não era metade do programador ou da "socialite" q sou hoje se não tivesse sido a internet. Passei metade da minha vida enfiado em casa a ler, ver televisão, jogar nintendo e desmontar brinquedos miscelaneos.
Muito antes de ter idade ou coragem para ir lá fora ver o mundo, entrou-me o mundo para dentro de casa.
Hoje em dia queixo-me que as pessoas á minha volta não são suficientemente sociáveis e so querem estar enfiadas em casa a ver televisao... :)
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