Sobre Jesuítas em Second Life
A notícia já é conhecida há alguns dias.
O El País, citando a agência EFE no Vaticano, noticiou no dia 26 Julho:
"A Companhia de Jesus propôs hoje utilizar a plataforma virtual Second Life para difundir o Evangelho, segundo um artigo difundido pela sua publicação Civiltà Cattolica e que foi bem recebido pelo Vaticano. O presidente do Pontifício Conselho de Comunicações Sociais, o arcebispo Claudio Maria Celli, declarou-se entusiasta perante o desafio lançado pelos jesuítas. Os jesuítas analisam as vantagens e inconvenientes desse mundo virtual e questionam que se há "ciberespaço para Deus", "a terra digital" pode converter-se, "à sua maneira, numa terra de missões". Celli qualificou a proposta como "positiva e interessante", pois a Igreja defende que "a Rede é um mundo enorme, que falta avaliar e entender, e onde indiscutivelmente quer estar". Na conhecida comunidade (de Second Life) encontram-se pessoas com "necessidades de carácter espiritual" e, por isso mesmo, "talvez" não seja de desprezar essa procura."
A este propósito, Lore Sjöberg manifestou hoje na Wired a sua opinião sobre este assunto, levantando algumas questões pertinentes:
"Como se fala de coisas espirituais com um esquilo gigante com seis seios?
Se fôr um missionário virtual num mundo virtual falando com "pessoas virtuais", irá tentar converter a "pessoa virtual" ou a real que se encontra por detrás dela? (...) Antes de mais, tanto quanto sei, no Céu nem sequer existe banda larga. Será difícil tentar que uma senhora-robot meia despida comungue, uma vez que as senhoras-robot meias despidas não entram nos planos de Deus. Obviamente terão que encontrar a "pessoa" por detrás do teclado, o pecador por detrás da representação. (...) Depois de tentar chegar a uma conclusão, acho que a maioria dos pecados apenas são pecados se, de facto, se cometerem. (...) No entanto, alguns pecados parecem ser pecado mesmo que apenas intenção. Muitos deles têm a ver com sexo. (...) Em vez de tentar perceber quem necessita de uma conversão pelas suas acções, talvez seja melhor perguntar-lhes. Mas depois terão que descobrir se lhes estão a dizer a verdade. Existem inúmeras pessoas na Net que lhes dirão que são jovens Católicas, mas muito poucas são Católicas, ou jovens, ou ambos. (...) E se encontrarem "alguém" com o aspecto de uma mulher meia despida, se com ela tiverem uma longa conversa sobre os planos de Deus, e se voltarem passado um mês e a virem vestida de freira, bem... é possível que tenham conseguido obter com a senhora tal efeito que a faça aderir de imediato a um convento que permita acesso à Net às noviças, mas estou mais convencido que apenas a convenceram a mudar de fetiches."
Os jesuítas não são pioneiros na investida religiosa em Second Life. Brevemente escreverei sobre outras confissões emergentes no metaverse. Mas as opiniões e sugestões do artigo da Wired, deverão, pelo menos, fazer com que Claudio Maria Celli e os jesuítas pensem duas vezes na sua cruzada virtual. Mesmo fechando os olhos à expressão "segunda vida" e aos seus possíveis significados, parece-me que a conversão religiosa em Second Life é tarefa hercúlea!
Bem... a não ser que os tais 8 milhões de registos, 45 mil online no máximo nos dias que correm, sejam todos avatares de crentes "reais"! Bolas, nunca me tinha ocorrido! Pois, mas nesse caso a evangelização não faria sentido, não era?