Sobre Género, Moda, BDSM, Gorean RPG
O discurso sobre o comportamento de géneros em Second Life é curioso, embora, uma vez mais, reflicta as normas sexistas da RL. Se tentarmos interpretar as diferenças de comportamento entre avatares masculinos e femininos, independentemente do sexo da pessoa "responsável" pelo avatar, verificamos que os padrões são importados do enquadramento cultural offline, até com alguns exageros que a "vida virtual" nos permite.
Senão vejamos alguns exemplos:
comércio de moda: um negócio predominantemente virado para a mulher, assumida como consumista por excelência. são inúmeras as lojas de roupa feminina, com estilos diferentes; a roupa para homem, quando existe, remete-se a um canto escondido (para encontrar roupa de homem diferente de fatos, smokings e casual déjá vu, tive que ir a ilhas gay!)
revistas de moda: são inúmeras, muitas delas associadas a marcas existentes na RL. algumas dedicam números especiais a Second Life, invariavelmente tentando cativar os públicos feminino e masculino (2 em 1 :) mas seguindo sempre os estereótipos da beleza sonhada na real life.
fetiches: o próspero negócio do sexo em Second Life, permite-se construir imaginários impossíveis na RL (em Second Life "fazemos o que não queremos ou não podemos fazer na real life" - adaptação livre do discurso de Sherry Turkle acerca dos MUD's). aí residem todo o tipo de fetiches, dos quais mais se destaca o BDSM (em caves graníticas de clubes ou locais de flirt). uma referência à University of Submission (!) onde se aprende (ou antes, onde as "avataras" aprendem a adoptar posturas e comportamentos submissivos, mesmo na linguagem utilizada com avatares masculinos).
gorean rpg: um fenómeno! inspirados nas Crónicas de Gor, de John Norman, uma série de vinte e seis novelas que combinam filosofia, erotismo e ficção científica. são ambientes de jogo, onde as mulheres assumem o papel de escravas e os homens o de guerreiros. são mundos "fechados", com regras extremamente rígidas a cumprir. só pode fazer parte do jogo quem manifestar o seu conhecimento de todas as normas comportamentais, que enfatizam a diferença entre homens (seres guerreiros e superiores) e mulheres (seres submissos, escravos e dóceis, normalmente com a obrigatoriedade de estarem ajoelhadas ou acorrentadas). (uma visita a City of Midgaard, City of Tarnburg ou City of Cardonicus em Second Life deve ser suficiente para esclarecer quem ficou confuso com a breve descrição).
Certamente que Second Life não vive (apenas) dos exemplos referidos, mas permitam-me uma questão: como é possível analisar questões de género em Second Life quando os pressupostos são os mesmos da vida real, ou até, dadas as características do meio, altamente exacerbados?
Mais interessante e divertido seria saber quais as pessoas que estão por trás de cada um destes avatares ;) Assim, o estudo faria sentido...
6 comentários:
Gostei muito da sua análise. Optimo blog! Tenho andado a investigar se vale a pena entrar ou não no Second Life e cada dia me convenço mais que não vale mesmo nada. É um ambiente bobo e fútil demais!Além disso eu gosto de ser quem sou, não preciso fingir ser alguém diferente. Prefiro a vida real! A internet tem também sítios bem mais interessantes do que esse!
Mafalda
Li o comentario da Nina num dos posts anteriores. Aí faz todo o sentido a existência de Second Life....
Em termos visuais também tem cenários interessantes...claro que nem tudo é mau neste jogo virtual, no entanto os aspectos que focou neste post são muito pertinentes, fazem pleno sentido...
Mafalda
Mafalda, na minha opinião em Second Life acontecem coisas demasiado importantes e enriquecedoras para que se considere "um ambiente bobo e fútil demais!".
Além disso, não está minimamente provado que quem "vive" em Second Life não gosta de ser quem é na RL!
Eu ando pelo SL faz pouco tempo. Tinha entrado no SL há coisa de um ano e tinha ficado com a mesma sensação: "um ambiente bobo e fútil demais!"
Depois de ler o Snow Crash (aconselho!), voltei ao SL com uma perspectiva diferente e acabei por me apaixonar.
O SL não é uma fuga da RL mas uma extensão da mesma. Obviamente que se pode testar experiências que nunca teriamos na RL, mas isso fica ao critério de cada um!
Não rejeitem o SL sem experimentarem e sem lhe darem algum tempo, pois como a água tónica, tem garantidamente osogoto!
Têm razão, Paulo e Bombadil,pensando melhor,fui de certa forma precipitada ao julgar nesses termos SL....terei de lá entrar um dia para observar melhor as coisas e tirar então conclusões mais concretas com base nas observações que fizer...
Mafalda
Engraçado, Pal... tenho andado precisamente a reflectir sobre uma série de temas mais ou menos semelhantes :)
Isso levou-me a lançar para a mesa lá na minha "casa" da blogosfera alguns assuntozinhos só para ver como é ke as pessoas pegavam neles.
E a conclusão foi a esperada... Second Life sim, mas como todos os valores e noções comportamentais e sociais de Real Life.
Ou seja... dá-se a um humano a possibilidade de se reinventar e ao mundo ke o rodeia e tudo o ke ele faz é transportar lá pra dentro precisamente as mesmas bases ke nos regem offl-line.
Será ke não somos MESMO capazes de mais ? Caramba, eu RECUSO-ME a acreditar nisso !!!
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