Andrea Foster, do americano The Chronicle Higher Education, conta a história de Peter J. Ludlow aka Urizenus aka Uri.
Vale a pena a adaptação do artigo de Andrea Foster para perceber quem é afinal Peter J. Ludlow:
(Ludlow) tem uma vida audaciosa, mas apenas online. Enquanto personagem digital de nome Urizenus, passeia por mundos virtuais e descreve o regime ditatorial das empresas que os comandam. As suas reportagens podem ser lidas no tablóide que criou na Web, o Second Life Herald. Offline, Ludlow é um linguísta e um pacato professor de Filosofia na Universidade de Toronto. Acaba de lançar um livro que reproduz as suas crónicas e aventuras jornalísticas em The Sims Online e Second Life (...) O livro é 'The Second Life Herald: The Virtual Tabloid That Witnessed the Dawn of the Metaverse' (MIT Press).
Não é fácil gerir duas vidas tão diferentes, e por isso Urizenus, aka Uri, nasceu para permitir que Ludlow se concentrasse num livro sobre linguística. Mas, apesar das suas vidas 'separadas', elas estão de facto relacionadas. Uri disseca os mundos virtuais como um filósofo da política. E enquanto o 'digital' é visto como um estereótipo de entertenimento para nerds sentados em frente ao PC matando monstros, Ludlow está entre o crescente número de académicos que vêm o virtual como algo a estudar.
(...) Das comunidades sociais text-based, Ludlow passou para The Sims. O jogo encoraja os utilizadores a criar famílias alternativas online, empregos e casas.
Como refere Ludlow no seu livro, a mentira, o crime, e os conflitos que proliferam nos mundos virtuais são um espelho da vida real. Na comunidade Alphaville em The Sims, por exemplo, Uri conheceu Evangeline, que trazia os novatos no jogo para a sua propriedade, Free Money for Newbies. Uri visitou o espaço, e percebeu que Evangeline tinha tudo menos uma obra de caridade. Dedicava-se a extorquir aos recém-chegados o seu dinheiro virtual.
Também descobriu que Evangeline dirigia um ciber-bordel. Na vida real, relatou Uri, a pessoa 'por trás' de Evageline era um jovem que levava outros jogadores menores de idade a oferecerem os seus avatares para sexo virtual em troca de dinheiro virtual, depois convertido em moeda real. No seu primeiro jornal online, o Alphaville Herald, Uri acusava a Electronic Arts Inc., proprietária de The Sims Online, por 'ignorar' o negócio do sexo. A Electronic Arts não gostou do 'jornalismo' de Ludlow, e cancelou a sua conta em The Sims em Dezembro de 2003. O seu avatar, escreve, foi efectivamente assassinado.
A Electronic Arts disse a Ludlow que a sua conte tinha sido cancelada por ter violado as regras de The Sims ao associar o Alphaville Herald ao seu perfil online (!). (...)
O professor registou-se em Second Life e ressuscitou Uri. Continuou a escrever e a fazer reportagem, mudando o nome do seu jornal para Second Life Herald em Junho de 2004.
(..) Uri, um 'emigrante' em Second Life, encontrou alguns dos antigos utilizadores de The Sims. Em Second Life, acreditavam que os utilizadores tinham mais controlo sobre a estética e as actividades no mundo virtual. A Linden Lab encoraja os utilizadores a criarem os seus próprios objectos digitais. (..) Em Second Life, Uri é uma versão jovem e musculada de Ludlow, que na realidade tem 50 anos.
No entanto Uri constatou alguma semelhança entre Second Life e The Sims: Linden Lab, foi tão autocrática quanto a Electronic Arts, quebrando as suas próprias regras para os utilizadores que mais gostava, e Ludlow registou a sua tristeza no Herald.
Numa das suas reportagens, Uri, num bunker subterrâneo, foi atacado e 'assassinado' enquanto observava um combate. Ressuscitou (como acontece nos mundos virtuais) mas foi de novo atacado. O atacante: um membro de uma milícia que preencheu a sua propriedade com objectos que atacavam e 'assassinavam' outros avatares.
Um representante da Linden Lab interveio para resolver a disputa e, para espanto de Uri, colocou-se ao lado do atacante, alegando que este podia fazer aquilo que quisesse na sua propriedade em Second Life.
(...)
Ludlow chama a atenção aos residentes para que tenham em atenção estas situações, uma vez que os mundos virtuais estão cada vez mais interligados com a vida real. "Nada de novo está a ser feito" na forma como os 'governos' dos mundos virtuais são estruturados, diz numa entrevista. "É apenas um conjunto de código implementado no
software desses 'mundos' por um qualquer engenheiro de
software sentado num cubículo no meio do edifício da empresa."
Ludlow associa o seu trabalho académico em filosofia com a exploração dos mundos virtuais, que diz ser apenas um hobby. (...)
Ludlow compara o estabelecimento de mundos virtuais com a Revolução Americana e a com a fundação dos Estados Unidos. O ciberespaço necessita de grandes pensadores que formulem as estruturas de governação, afirma, tal como
Thomas Jefferson na Declaração da Independência.
Os mundos virtuais levantam também algumas questões sobre o que é 'real', do ponto de vista filosófico. Num artigo de Setembro de 2006 no jornal Philosophical Issues, Ludlow argumenta que não existe uma separação clara entre a ficção e a realidade.
(...) Será que, então, Uri é tão 'real' como Ludlow?
Catherine A. Fitzpatrick, que colaborava frequentemente com o Herald com o avatar Prokofy Neva, afirma que Uri e Ludlow são, de facto, uma e a mesma 'pessoa'. Mas as suas personalidades diferem, afirma: Uri é vocal, Ludlow taciturno.
"(Ludlow) está muito atento às histórias das pessoas e amplifica-as, dando-lhes poder," afirma Fitzpatrick, uma tradutora de russo em Nova Iorque que gere um negócio real de venda de propriedades em Second Life.
Edward Castronova, professor na Universidade de Indiana em Bloomington, e que é economista, suspeita que Ludlow menospreza a relação entre os seus dois tipos de funções, uma vez que receia não ser tomado a sério enquanto académico.
"E está provavelmente certo," afirma Castronova. "Provavelmente quer que o seu livro venda muito, mas que nenhum dos seus colegas saiba sequer que alguma vez foi escrito."