4.2.09

A tendência autofágica da informação que circula

Foi já há 3 anos (!!!) que aconteceu o 3º Encontro Nacional e o 1º Encontro Luso-Galaico sobre Weblogs, no Porto, onde José Luis Orihuela perguntava: "Porque é que os weblogs (não) vão acabar em 2006?"...

À época, o desafio de Orihuela era interessante, divertido e de resposta óbvia: não, os blogs não vão acabar em 2006 (quanto mais não seja para que se possam organizar os Encontros seguintes, como veio a acontecer).

Mas os blogs, ou blogues, de que falava Orihuela, não são os mesmos de 2009! Nem podiam ser!
A blogosfera (uma espécie de bolha instalada algures no ciberespaço) perdeu muito do seu carácter corporativista para as redes sociais e para o chamado 'microblogging', até para os mundos virtuais...

A incontornável atracção da componente social no ciberespaço, continua a fazer com que as coisas mais estranhas aconteçam, e onde menos se espera...

As redes sociais mais conhecidas (Hi5, Orkut, Friendster,...) continuam a 'encher a barriga' de Facebook, que, por sua vez, se alimenta da sua principal aposta: a chamada 'interoperabilidade' com outras ferramentas inicialmente com funções distintas, como os mundos virtuais, os blogs e o microblogging (Twitter à cabeça)...

Na prática, tudo isto se manifesta numa complexa e intrincada teia de informação que segue os mesmos percursos até se alimentar dela própria: um verdadeiro caso de autofagia! Ou um mega cibercorpo de sistema venoso potencialmente explosivo!

Se publico no meu blog: "Não percam esta notícia do Público em http://tinyurl.com/codvb9", passados segundos, se eu quiser, tenho publicado o mesmo conteúdo no Twitter, no Google Reader ou no Facebook, por exemplo..., para quem me 'seguir'!

E repito: o mesmo conteúdo, os mesmos caracteres, a mesma narrativa, o mesmo formato...

Por isso há blogs que são microblogs (adoptando os famosos 140 caracteres do Twitter), e que amanhã serão nanoblogs...

Por isso há contas no Twitter onde se publicam apenas ligações a blogs, que, por sua vez, são microblogs iguais ao Twitter!!!

Na minha rede de 'amigos' em Facebook encontro toda esta informação, que sigo fielmente.
A mesma informação que encontro no Google Reader, as mesmas frases que me aparecem no Twitter, os mesmos feeds que obtenho em Second Life!

Esta tendência autofágica da informação que me circula pelas 'veias digitais', fica a dever-se ao pouco/escasso/inexistente cuidado que os cibercidadãos parecem ter quando usam uma linguagem específica...
As particularidades dos meios ao serem 'esquecidas' ou propositadamente 'miscenizadas', transformam a mensagem numa coisa sem piada, sem métricas próprias, semanticamente pobre...

4 comentários:

ana disse...

Quando saio de casa ao sábado para tomar um café (e provavelmente encontrar alguns amigos) escolho um dos 4 cafés da minha rua ou vou a tr~es ou mesmo aos 4? Se a maioria dos meus amigos for também a três, ou mesmo aos 4, vamos encontrar-nos e falar de coisas diferentes porque os cafés são diferentes, ou das mesmas coisas porque somos as mesmas pessoas? A vertigem de "estar" em todo o lado na internet não acrescenta provavelmente nada ao que temos para dizer, só produz eco.

Paulo Frias disse...

A ubicuidade é uma tentação vertiginosa ;)
(não confundir ubicuidade com onanismo, que, por vezes, parecem ser entendidos como sinónimos!)

Apesar de tudo, Ana, tentava apenas falar da adequação do discursos ao meio...

por um fio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
por um fio disse...

É a segunda vez que aqui venho ler este texto! A primeira vez li e a sintonia foi total... e fiquei a pensar que alguém tinha posto de uma forma clara o que também eu já tinha pensado uma série de vezes... Tudo por causa daquela febre vertiginosa de estar em todo o lado ao mesmo tempo ou de atingir um público mais alargado. O problema é se temos o mesmo público para os diferentes sítios... Se publico uma fotografia no Flickr, esta é automaticamente publicada no Facebook e no Blog. Se publico no Twitter, a informação é automaticamente lida no Facebook e no blog, eventualmente noutros meios. Corremos de facto o perigo de nos tornarmos redundantes e de a mensagem empobrecer ou cansar o público, porque se transformou em «ruído». Quer-me parecer que, porque estas ferramentas existem em abundância e são de acesso livre, toda a gente usa e abusa, passando a repetir-se em tudo o que encontra disponível por aí.
Mas a «poeira» há-de assentar…
Sou uma utlizadora e defensora das ferramentas web 2.0 e sou de opinião que a sua boa e «ajuizada» utilização pode ser um bem fantástico para os nossos serviços de informação. O que será essa ajuizada utilização? Parece-me que seja usar apenas o meio adequado ao nosso público e à nossa mensagem. Passada a fase de tudo experimentarmos, passaremos a usar apenas aquelas que provem ser as melhores ferramentas para o nosso caso.
Esta segunda leitura e reflexão deu-me vontade de deixar esta mensagem.