27.1.08

Um mundo comunicativamente plano


Enrique Dans tem andado em viagem!
Por essa razão, escreveu uma interessante crónica para a LibertadDigital.es, que, pelo seu interesse e frescura de conceitos, me apetece reproduzir aqui, fazendo uma 'ponte' com Second Life.
De 'um mundo comunicativamente plano' fala Dans:

"As duas últimas semanas passei-as terras distantes, entre a China, Coreia e Japão. E, apesar de não ser a primeira vez que o faço, esta foi claramente a ocasião em que mais notei: fui, mas sem deixar de estar aqui.

Tentemos definir e enumerar as diferentes ferramentas ao meu alcance e o seu grau de maturidade: o popular Skype permite-me, em qualquer momento, aparecer no monitor de qualquer dos meus contactos, saber se estes estão ligados ou não – e vice-versa, que eles também saibam de mim – e falar com eles de uma maneira completamente natural, visualizando expressões e gestos. Nada de novo, mas muito diferente quando estamos a falar de um grau de maturidade de vários anos: hoje em dia ao meu Skype, além de ser praticamente público e notório, têm acesso, além da minha família e amigos, qualquer dos meus alunos actuais e ex-alunos desde há vários anos. Não vou aventurar-me com um número, mas sei que deu para, além de falar com a minha família todos os dias e sistematicamente mais de uma vez por dia, para saudações ocasionais e conversas com vários outros amigos, e até para uma entrevista. Para todas estas actividades, o facto de eu estar a vários milhares de quilómetros de distância e a sete ou oito horas de diferença, foi completamente indiferente.
Na verdade, em alguns casos, a utilização de Skype tornou-se até muito curiosa: em vez de manter uma conversa, a minha mulher e eu limitava-mo-nos a deixar a janela do Skype aberta enquanto fazíamos qualquer outra coisa no computador, como se estivéssemos a trabalhar cada um diante do outro, e simplesmente cruzando comentários, frases ou observações ocasionais por qualquer motivo. Uma autêntica 'janela aberta para minha casa', desde o outro lado do mundo, mas com uma sensação de proximidade total. E com um custo praticamente nulo, dado que as infraestruturas necessárias se amortizam entre uma enorme variedade de tarefas mais.

Outra ferramenta habitual que esteve sempre presente durante estas duas semanas, foi o Gtalk. As mensagens instantâneas do Google, disponíveis praticamente para qualquer pessoa que conheça o meu e-mail, permite trocas rápidas de comunicação textual, e é enormemente conveniente para coordenar assuntos de trabalho, enviar um link, ou deixar uma nota aberta no monitor da outra pessoa para que a veja quando voltar a sentar-se em frente ao computador, com muito mais agilidade do que a que proporciona um correio electrónico. De novo, custo nulo, disponibilidade total, abertura a um número enorme de pessoas. Resultado? Acrescentemos à equação correios electrónicos, páginas web, comentários no blog, etc., e durante estas duas semanas pude trabalhar com pessoas e desenvolver certos assuntos como se, na realidade, não tivesse viajado.

Mas o clímax da sensação de 'mundo plano' apareceu com a oportunidade que tive de participar num vídeo para uma empresa do sector tecnológico: a empresa e eu tínhamos negociado a minha participação para uma data em que eu deveria estar em Madrid, depois de eu ter descartado a possibilidade de viajar até à sua sede em Londres para gravar. Uma troca de datas fez com que no dia da gravação, na qual participavam outras pessoas, eu estivesse em Shanghai. Face à minha chamada a desculpar-me face ao sucedido, a resposta imediata, e completamente natural: "E então? Não há problema, em Shanghai também temos uma sede". A experiência foi impressionante: estar num edifício no centro da cidade, para me encontrar com duas pessoas que estavam em Londres, e que eu via em cada momento em tamanho natural, num monitor de alta resolução, com som perfeitamente direccional, diante de mim do outro lado da mesa. Uma sensação de telepresença completamente futurista, nada comparável ao que temos por aqui: a presença praticamente real, holográfica, na qual uma pessoa verdadeiramente "aparece" diante dos olhos dos outros independentemente da sua localização real.

Durante duas semanas experimentei muito mais do que em qualquer outra das minhas viagens a sensação de um 'mundo plano', de 'estar longe sem ter saído', com enormes vantagens de todo o tipo e apenas alguns inconvenientes: combinado com o jetlag e com sete ou oito horas de diferença horária, é uma das melhores maneiras que conheço de acabar dormindo entre pouco e nada. Mas, independentemente deste tipo de coisas, que invariavelmente precisam de um certo ajuste, tive a sensação de ter posto em prática tudo isso que contamos que a tecnologia pode fazer por nós, e além disso não sou – obviamente – o único a fazê-lo. Nem sequer posso pensar em sentir-me exclusivo por isso: milhares de pessoas em todo o mundo utilizam estas e outras tecnologias diariamente, começando pelos próprios alunos dos cursos que estava a dar.

Há poucos anos, as minhas possibilidades para me manter em contacto com a minha família ou o meu trabalho passavam por comunicação por voz, uma experiência incómoda, incompleta e insultantemente onerosa. Hoje, os mesmos que me ofereciam essas comunicações caras vêm como apago o meu telemóvel durante duas semanas para não pagar o caríssimo roaming, e, sem dúvida, passo a estar mais próximo em vez de mais isolado. Interessante, não? Em poucos anos, o mundo converteu-se num lugar comunicativamente plano, e, em menos ainda, passámos de uma utilização excepcional por alguns inovadores para um uso quase generalizado a determinados níveis. Pouco surpreendente? De facto. E precisamente por isso, impressionante."

O relato de Enrique Dans (como sempre apaixonado), não é de facto nada surpreendente. Impressionante é sim a sua capacidade de síntese e de formulação de ideias claras. Dans fala do 'espaço de fluxos' na sociedade em rede de Castells duma forma quase 'ingénua'. Pela constatação diária da proximidade e da inexistência de barreiras físicas e geográficas, o conceito de um mundo comunicativamente plano que apresenta não é mais do que a consciencialização absoluta do fluxo em detrimento do lugar.

Em Second Life, tal como noutras redes dentro 'da rede', as experiências não diferem muito das do relato de Enrique Dans. A convergências de plataformas e as formas de comunicação síncrona e assíncrona dentro de SL e entre SL e outras soluções (como Skype ou Facebook), fazem-nos, por vezes e quando conseguimos 'parar' para pensar, perceber essa sensação de proximidade exponencial onde o 'mundo redondo' e as suas barreiras apenas existem quando as queremos criar! Também em Second Life o mundo é comunicativamente plano!

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