26.6.08

'Simulador de Vida' ou 'Simulador de Sonhos'?

Cinco anos após o ‘parto’, Second Life (ou ‘Your World. Your Imagination‘) trouxe para o metaverse milhões de residentes que, na sua grande maioria, se deleita com a possibilidade de recriar em formato digital uma vida terrena matizada por uma infinidade de cores, sempre surpreendentes.

Paradoxalmente, o ‘nosso mundo’ e a ‘nossa imaginação’ plasmados no écrã estão repletos de ínfimas cópias de coisas reais! A simulação em formato de mimetismo representa a tentação que cada um tem para se rodear de linguagens que lhes são familiares, e que induzem conforto pela proximidade com a realidade ‘do lado de cá’.

Infelizes seremos para todo o sempre, se o que conseguirmos fazer de um ‘novo mundo’ for apenas a réplica de um ‘mundo velho’ e gasto, onde a podridão se mistura com a surpresa, numa sucessão frenética de modelos societários injustos, infames ou desacreditados.

A cultura pós-moderna da simulação, transporta a vida para o écrã, e faz de Second Life o mais perigoso ’simulador de vida’ alguma vez criado.

Levado à letra, o claim da Linden Lab propõe um desafio bem mais interessante: a construção de um ‘simulador de sonhos‘!

É esse simulador que eu gostava de usar até que as ideias se me secassem nos neurónios. Um simulador de ideias novas, de conhecimento partilhado e construído em instâncias inovadoras de comunicação e de aprendizagem. Aos vómitos provocados por conversações em chats sem interesse e por artefactos e objectos ‘tão parecidos com os reais’, suceder-se-ia a maravilhosa sensação da descoberta de coisas verdadeiramente novas.

O meu ‘eu’ seria a primeira coisa a descobrir! Essa seria a mais básica e admirável tarefa no ’simulador de sonhos’. Depois de o perceber, a simulação da conversação, da socialização, da comunicação com múltiplos meios, da representação e percepção dos novos espaços, fluiriam com a naturalidade de… um sonho!

Nota: por favor, afastem de mim as cadeiras, as lareiras e as floreiras, porque, nos meus sonhos, não me canso, não morro de frio nem preciso de vasos pirosos para cheirar uma flor. thanks!

* artigo de opinião também publicado em Utopia e-zine

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