A peça de Lego que faltava!

Viagem é sabedoria não planeada!
É como livro ao qual faltam páginas que só se encontram passados anos no meio de papelada.

Desta vez a sabedoria estava na mesa do canto do Restaurante Vesuvio, em frente à Câmara de Copenhaga, no último dia de 2008!

Chamava-se Miguel (naquele dia) e era um 'cidadão europeu' com vinte e tais.
Nascido em Gdansk de pais polacos, com 3 meses já pulava de país em país, sem conhecer o que era fronteira.
Por saber ficou a razão de tanta mobilidade, que convenientemente não averiguámos.

Miguel tinha um sorriso sonhador mediterrânico, que espalhava pelas mesas entre as entradas e o consumé do jantar de fim de ano do Vesúvio, casa de 'italiano vero' com ementa a condizer.

Ao som dos petardos que começavam a rebentar selvagens na praça, arrisquei atirar para o ar que a 'coisa' hoje estava pouco romântica! Miguel, no seu castelhano perfeito, explicou:

"Aqui com dezasseis anos és livre para fazeres o que queres.
Este povo de vikings enfrentou muita coisa, e se vires os garotos de hoje a irem para a escola de bicicleta no Inverno de manga curta, percebes que os vikings ainda cá estão!"

Esta era a peça de Lego que me faltava para entender a dificuldade de passar o ano (ou um qualquer fim de semana) em Copenhaga sem tropeçar em corpos inertes espalhados pelo chão dos bares por excesso de álcool!
E a mesma peça que me faltava para perceber a violenta expressão de posse dos homens com as suas mulheres (talvez daí a enorme comunidade 'gay': a coisa resolve-se de homem para homem)...

A tal página perdida do pequeno livro de viagem que um dia poderia escrever, apareceu ali, sem se fazer anunciar: Miguel, cidadão europeu, e que continuará a viver em Copenhaga, porque em Fevereiro vai ser pai!
Eu quase jurava que Miguel não vai ser pai de um viking...

Com cumplicidade nos despedimos, nós e a folha perdida, que continuará a esvoaçar pela europa sem rumo certo...